Tendo como ponto de partida a descoberta recente de um lobo Guará de cor preta no norte de Minas Gerais Bernardo do Espinhaço lança "O Alumbramento de um Guará Negro numa Noite Escura" (2014). A este episódio o compositor dispôs variado apelo imaginativo onde revela aspectos de seu cotidiano, num propósito autobiográfico de cenário recorrente.

Ora utilizando-se de instrumentos regionalistas como a viola caipira, ora usufruindo de novas tecnologias como os samplers de programações eletrônicas Puhler constrói um álbum de inusitada dialética e narrativa que persegue a linearidade. "Foi concebido pra ser escutado como uma peça única, permitindo o diálogo entre as faixas, preferencialmente com fones de ouvido e num ambiente que não ofereça interrupções." sugere Bernardo.

Nas 12 faixas, todas de sua autoria, canta, toca violão, viola caipira, piano, flauta transversal, baixo, percussões e programações eletrônicas. Mas conta também com a presença de notáveis talentos da nova cena musical mineira. Alexandre Andrés, Frederico Heliodoro, Rodrigo Lana e Yuri Vellasco participam de várias faixas do disco que foi gravado, mixado e masterizado pelo próprio Bernardo sob a supervisão de César Santos, Arthur Damásio e Kiko Klaus. No encarte a fotografia de André Dib, referência em imagens de montanhas no Brasil.

Canções e temas instrumentais se sucedem conduzindo o ouvinte a um universo ermo e misterioso. A proposta no entanto, cede espaço para abordagens curiosas. Enquanto a faixa "Aracy" discursa sobre a vida da segunda esposa de Guimarães Rosa, "Pam" oferece reflexão a respeito da dependência de medicamentos ansiolíticos.

Bernardo do Espinhaço também conhecido como Bernardo Espinhaço é o criador e principal compositor do projeto Músicas do Espinhaço que lançou 3 discos, tendo sido o mais recente ("Janelas", 2013) citado por importantes críticos brasileiros. Além disso, a banda teve o maior número de apoiadores e recurso recolhido através de um projeto de música na história do crownfunding em Minas Gerais. Bernardo é parceiro de artistas como o fundador e letrista do Clube da Esquina, Márcio Borges, e o cantautor cearense Joaquim Izidro. Está também muito relacionado às causas ambientais, participando ativamente de diversos movimentos pela criação de parques e projetos de sustentabilidade nas montanhas brasileiras.

Este disco, pra ninguém escutar, aqui está. Não por egoísmo, mas certamente também não me cabe dizê-lo altruísta, não é. O "Guará Negro" respeita e expõe minha intimidade, diz mais de mim do que eu poderia dizer de qualquer outra maneira. Impõe o ego no centro, no entanto servindo mais por desconstrução que vaidade. É próprio, e por isso o manifesto de um indivíduo só. Se antes desconfiava de uma resposta do grande público pra minhas coisas, agora essa é uma verdade, e assumi-la me liberta em definitivo. Eu o fiz pra minha própria escuta, meu estetoscópio.

As escolhas alem de livres foram libertinas, propositadamente. Enquanto bicho, posso ignorar deliberadamente a tudo, menos a minha própria natureza. Quem o percorre lida com o sombrio, o bucólico, o ermo e o misterioso, mas me encontra resistentemente guarnecido de esperança. É que não me aceito oferecendo algo que não seja o bem pras outras pessoas e pro ambiente a minha volta. Eu sou este, latindo numa noite escura, arranhando as árvores de maneira agressiva, arrastando o sonho desfigurado pelo caminho, ainda assim não me falte fôlego pra sonhar profundo. Nem vontade pra reagir ao medo. Intento.
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O álbum “O Alumbramento de um Guará Negro numa Noite Escura” foi integralmente realizado sem lei de incentivo e patrocinadores. Ainda assim é disponibilizado de maneira gratuita pelo autor. Caso queira contribuir com o projeto financeiramente recebemos doações através da conta:

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Fotografias de autoria de Bernardo do Espinhaço realizadas durante a gravação do disco.


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